sexta-feira, 15 de junho de 2012

O CINEMA DE ANTÓNIO DE MACEDO - Finalmente a merecida homenagem na Cinemateca!

Tal e qual as Relações Públicas da Cinemateca Portuguesa mandaram cá para fora:


O CINEMA DE ANTÓNIO DE MACEDO

Arquiteto de formação, cineasta por vocação, mas também compositor, escritor e ensaísta, docente, António de Macedo é um protagonista singular do cinema português cujo panorama marcou entre os anos sessenta da sua estreia no contexto do Cinema Novo, época em que a sua obra é especialmente prolífera, e os anos noventa em que infletiu de percurso, passando a dedicar-se mais ativamente aos estudos e ensino universitários nas áreas das religiões comparadas, das tradições esotéricas, das formas literárias e fílmicas ou da sociologia da cultura, em que se doutorou em 2010.
A sua primeira longa-metragem DOMINGO À TARDE é, em 1965, o terceiro filme proa do Cinema Novo Português, produzido por António da Cunha Telles como OS VERDES ANOS de Paulo Rocha e BELARMINO de Fernando Lopes. Com ela António de Macedo afirmou-se no contexto do novo fôlego da cinematografia portuguesa dessa década, mas como sucedeu com outros nomes da sua geração o seu percurso começara antes, no domínio do formato curto: inicia-se com os experimentais A PRIMEIRA MENSAGEM e ODE TRIUNFAL e profissionalmente com VERÃO COINCIDENTE e NICOTIANA cuja originalidade chamou a atenção para o seu trabalho. Marca de água de toda a sua obra, cruzada por diversas influências e interesses, persistentemente apostada na experimentação das possibilidades visuais e sonoras no cinema (tanto nas curtas como nas longas-metragens, nas obras de ficção, documentais, institucionais e em filmes publicitários), essa originalidade revestiu-se, por outro lado, de uma dimensão polémica, em alguns casos feroz, que foi pontuando a receção dos seus filmes a partir de 7 BALAS PARA SELMA, a segunda longa-metragem.
A produtividade dos anos sessenta estendeu-se à década seguinte, que Macedo atravessou desafiando os imperativos da censura, antes de 1974 (depois de em 1970 ser um dos fundadores do Centro Português de Cinema, foi em 1974 que cofundou a cooperativa Cinequanon onde desenvolve a atividade de cineasta nos vinte anos seguintes), e dos cânones estabelecidos, estendendo as linhas mestras do seu cinema às questões sociais e políticas numa vertente documental. A dimensão fantástica, o imaginário popular e os elementos esotéricos dominam os filmes posteriores na convicção de que “a realidade é mais subtil do que aquilo que a gente vê. As incursões esotéricas que faço são tentativas de penetrar no universo real. Aliás pode dizer-se que o meu fantástico é mais real do que o real”.
A retrospetiva da obra de António de Macedo que a Cinemateca agora propõe é uma travessia de várias décadas de história do cinema português e a revisão de um olhar  reivindicadamente experimental, frequentemente polémico. Numa proposta de António de Macedo, começamos por O PRINCÍPIO DA SABEDORIA, sendo a retrospetiva genericamente pensada a partir da sua cronologia. Incluindo longas e curtas-metragens, obras conhecidas e títulos mais raros, os filmes serão em grande parte apresentados em novas cópias tiradas no laboratório da Cinemateca. Será publicado um catálogo

O PRINCÍPIO DA SABEDORIA
de António de Macedo
com Guida Maria, Sinde Filipe, Carmen Dolores, Nicolau Breyner, João d'Ávila

Portugal, 1975 – 155 min


com a presença de António de Macedo


O PRINCÍPIO DA SABEDORIA, também conhecido como O RICO, O CAMELO E O REINO, é uma incursão de António de Macedo nos domínios do sobrenatural, reivindicando a bizarria das peripécias num argumento escrito a partir de três novelas de Pere Calders, O Princípio da Sabedoria, A Árvore Doméstica e A Cada Um o Seu Ofício: nos jardins da grande casa de aldeia de um arquiteto insociável, é descoberta uma mão. Num letreiro colocado no portão da propriedade, o arquiteto anuncia devolvê-la a quem provar pertencer-lhe. É uma produção da Tobis Portuguesa, com direção de produção de Henrique Espírito Santo, fotografia de Elso Roque e música de António Victorino d'Almeida.
Sex. [22] 21:30 | Sala Dr. Félix Ribeiro
Seg. [25] 22:00 | Sala Luís de Pina



DOMINGO À TARDE
de António de Macedo
com Isabel de Castro, Ruy de Carvalho, Isabel Ruth

Portugal, 1965 – 93 min
Título marcante do Cinema Novo Português, DOMINGO À TARDE é cronologicamente o terceiro, emparelhando com OS VERDES ANOS (Paulo Rocha, 1963) e BELARMINO (Fernando Lopes, 1964), também produzido por António da Cunha Telles, e, como aqueles, um título perfeitamente inserido nas tendências do novo cinema dos anos sessenta. "Gosto de experimentar, cinema de montagem intenso, sincopado, gosto de inserir teoria dentro da ação fílmica" (Luís de Pina) são algumas das características desta obra amarga e sóbria, situada no meio hospitalar e que inclui o segmento de um filme fantástico que indica a dimensão experimental da obra futura de Macedo. Com argumento baseado no romance de Fernando Namora, foi o seu primeiro filme de longa-metragem. Foi selecionado para a secção competitiva do Festival de Veneza de 1965, onde foi exibida uma versão não censurada.
Seg. [25] 19:00 | Sala Dr. Félix Ribeiro
Qui. [28] 19:30 | Sala Luís de Pina



7 BALAS PARA SELMA
de António de Macedo
com Florbela Queirós, Sinde Filipe, Tomás de Macedo, Osvaldo Medeiros, Lia Gama

Portugal, 1967 – 108 min
Segunda longa-metragem de António de Macedo, 7 BALAS PARA SELMA tem inspiração policial e foi na época da sua estreia "um caso" no cinema português, alvo de críticas severas e a acusação de cedência a expectativas comerciais. É um filme que se distingue pela singularidade da sua proposta e a abertura a dimensões cuja variedade o realizador viria a trabalhar ao longo da sua obra. Macedo assina a realização, argumento, diálogos, planificação e montagem. A fotografia é de Acácio de Almeida, a música do Quinteto Académico e a letra das canções, interpretadas por Florbela Queirós, de Alexandre O'Neill. A produção é da Imperial Filmes.
Ter. [26] 21:30 | Sala Dr. Félix Ribeiro
Sex. [29] 22:00 | Sala Luís de Pina



NOJO AOS CÃES
de António de Macedo
com Avelino Lopes, Clara Silva, Eduarda Pimenta, Helena Balsa, Hilda Silvério

Portugal, 1970 – 93 min
De registo experimental e temática contestatária, filmada em película positiva e adotando premissas do cinema direto, a terceira longa-metragem de António de Macedo foi produzida pelo próprio e a expensas suas, o apoio da Valentim de Carvalho e da Ulyssea Filme. A ação de NOJO AOS CÃES dura o tempo da projeção do filme seguindo uma manifestação de estudantes que termina com a intervenção da polícia política. Proibido pela censura, foi exibido nas edições de 1970 dos festivais de Bérgamo e de Benalmadena, onde foi distinguido com o prémio da Federação Internacional dos Cineclubes.
segunda passagem em julho
Qua.
[27] 19:00 | Sala Dr. Félix Ribeiro



CINE-RISO – ALMANAQUE DOS PARODIANTES DE LISBOA
Portugal, 1969 – 10 min
A PRIMEIRA MENSAGEM
com Cristóvão Martinho, Maria Tereza
Portugal, 1961 – 7 min / sem som
A REVELAÇÃO
com Costa Guerra
Portugal, 1969 – 19 minutos
A BICHA DE 7 CABEÇAS
de António de Macedo
com Guida Maria, Ruy de Carvalho, Ana Maria Gonçalves, Carlos Daniel, Manuel Coelho

Portugal, 1978 – 32 min
de António de Macedo


duração total da sessão: 68 minutos

Esta primeira sessão de curtas-metragens de António de Macedo inclui um dos seus títulos inaugurais, A PRIMEIRA MENSAGEM, filmada em 16mm preto e branco e sem som sob a influência da vanguarda francesa, de Eisenstein e Pudovkin. De 1969, CINE-RISO é fruto de colaboração com os Parodiantes de Lisboa, e A REVELAÇÃO é uma produção Francisco de Castro com o patrocínio da Sociedade Nacional de Sabões. Posterior em cerca de uma década, A BICHA DE 7 CABEÇAS (produção Cinequanon) é a variação de um conto tradicional português. À exceção de A PRIMEIRA MENSAGEM, os títulos da sessão são primeiras exibições na Cinemateca.
segunda passagem em julho
Qui.
[28] 21:30 | Sala Dr. Félix Ribeiro



A PROMESSA
de António de Macedo
com Guida Maria, Sinde Filipe, João Mota, Luís Santos

Portugal, 1972 – 94 min
A partir da obra teatral homónima de Bernardo Santareno e assentando num trabalho de investigação sociológica levado a cabo nas aldeias piscatórias em que decorre a ação, com produção do Centro Português de Cinema, A PROMESSA é a história de um jovem casal de uma aldeia de pescadores profundamente religiosos que não consuma a sua união em cumprimento de um voto de castidade. De novo alvo de polémica na receção em Portugal, (foi a primeira obra portuguesa a mostrar dois corpos nus), A PROMESSA teve uma boa carreira e foi o primeiro filme português oficialmente selecionado para o Festival de Cannes.
segunda passagem em julho
Sex.
[29] 19:00 | Sala Dr. Félix Ribeiro