terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Mecanismos Externos - Poema da morte na estrada

Nada melhor para assinalar a minha primeira postagem neste blog, em 2008, do que com um poema muitíssimo alegre do António Gedeão


Poema da Morte na Estrada

Na berma da estrada, nuns quinhentos metros,
estão quinhentos mortos com os olhos abertos.

A morte, num sopro, colheu-os aos molhos.
Nem tiveram tempo para fechar os olhos.

Eles bem sabiam dos bancos da escola
como os homens dignos sucumbem na guerra.
Lá saber, sabiam.
A mão firme empunhando a espada ou a pistola,
morrendo sem ceder nem um palmo de terra.

Pois é.
Mas veio de lá a bomba, fulgurante como mil sóis,
não lhes deu tempo para serem heróis.

Eles bem sabiam que o último pensamento
devia estar reservado para a pátria amada.
Lá saber, sabiam.
Mas veio de lá a bomba e destruiu tudo num só momento.
Não lhes deu tempo para pensar em nada.

Agora, na berma da estrada, nuns quinhentos metros,
são quinhentos mortos com os olhos abertos.

António Gedeão

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